Com o tema “Participação da sociedade no processo de democratização do
Estado” e lema “Estado para que e para quem”, na segunda-feira, 12 de
dezembro, no Auditório Paulo IV, na Sé Arquiepiscopal de Teresina aconteceu a 5ª Semana Social Brasileira no Piauí. Essa Semana Social teve como objetivo mobilizar as comunidades eclesiais, os movimentos, as pastorais, os organismos e as forças sociais para refletir sobre as estruturas sociais, políticas e econômicas do Estado Brasileiro e a participar do processo de sua democratização, promovendo a participação dos pobres e excluídos na construção do país justo, democrático, solidário e sustentável.
Dom Alfredo Sháffler, presidente do Regional CNBB NE-IV e bispo da Diocese de
Parnaíba, em seu discurso de abertura desse fórum falou sobre importância da participação dos leigos na
democratização do Estado do Piauí. Nosso bispo salientou que os leigos não devem
se preocupar apenas em vestir um jaleco ou outra veste litúrgica para servir apenas
na Igreja e/ou capela que frequenta, mas o cristão leigo deve também e, de modo
muito urgente, agir no mundo da política! Escolhendo bem os representantes da
sociedade e lutando pelos direitos de todos!
Confira o discurso de nosso pastor na íntegra e com adaptações:
Que Estado temos e que estado
queremos e precisamos para que a dignidade da pessoa humana seja
devidamente respeitada? Um novo Estado, caminho para uma nova sociedade de bem
viver.
Novos tempos, novas exigências, novos
desafios, novas tensões, novas oportunidades. Eis a situação do nosso mundo
atual!
Necessitamos construir para nós
humanos, uma pátria, um sonho, uma cidade, um lar, a segurança para nos
proteger e recuperar o sentido verdadeiro do amor.
Quais as interpelações de hoje que
desintegram rapidamente nossa sociedade? Quando se percebe que a economia não busca
o bem comum mais o maior lucro?
Os partidos políticos não buscam o
bem comum do povo, mas o poder para se aproveitar depois nas mais diversas
formas. E quem está levando a melhor fatia no processo das buscas de respostas
às inquietações e angustias?
O desejo de transformação na
humanidade foi sempre comum dentro do coração e da essência do humano. Basta
olhar a história humana. Podemos destacar o povo antigo, com sua busca da terra
prometida. Vivemos na constante busca da transformação.
Os princípios comportamentais,
transformação da família, da religião, do modo de trabalhar, o emprego, o
desenvolvimento tecnológico, a busca do dinheiro custe o que custar.
Temos transformações que nos tiram a
liberdade e a segurança, mundo do narcotráfico, da infidelidade familiar, dos
vícios, dos aglomerados e da falta de sensibilidade e senso do cuidado pela
vida.
Violência, corrupção, leis perversas,
o ser frágil e expulso a olhos nus acobertados pela lei de segurança pública.
Porque aconteceram as conferências do
norte ao sul referente aos meios de comunicação? Qual a finalidade desta
articulação?
E porque hoje está se limitando cada
vez mais a outorga dos meios de comunicação de massa aos meio ligados a Igreja?
A sábia palavra da nossa presidente [na
posse] colocou um freio nessa questão que estava avançando quando falou: Melhor
o barulho nas ruas do que o silêncio nos meios de comunicação...
Quantos altos funcionários públicos
estão sendo acusados e investigados agora – à partir dos meios de comunicação!
Percebe-se que difusamente, vive-se
na sociedade contemporânea uma nova necessidade de sentido. De outro lado o
povo não é uma multidão amorfa, uma massa inerte a ser manipulada e
instrumentalizada.
O Documento “Por uma Reforma do
Estado da CNBB”, nº. 91, no item 39: “Se
a decepção com a democracia formal se dá pela desconfiança na palavra e na
prática dos agentes políticos, três princípios – mudanças de práticas, conduta
ética e defesa e promoção da vida plena do outro – devem nortear a ação
daqueles que tem responsabilidade públicas ocupando ou não cargos eletivos.
É a mudança de prática e não apenas
de discurso que vai criar uma nova confiança no agente político. Uma prática
que se mostra na transparência de seus atos e de suas relações.
Entra muitas vezes a questão da
infraestrutura do próprio Estado e da própria legislação que impede em lugar de
ajudar na construção de uma vida mais digna. Ex. Reunião com nove parlamentares
– Cocal 1.068 dias do rompimento da Barragem Algodões I.
O Documento de Aparecida, no nº. 428:
“É necessário que os Estados considerem com seriedade e verdade a situação do
sistema de justiça...”
Pessoalmente vejo em grande parte que
de um lado se percebe que o atual Estado que temos não atende mais as
necessidades da sociedade. Isso fica cada vez mais claro na percepção da
opinião pública. Mas eu vejo que em grande parte fica somente nisso.
Será que não falta uma clara
percepção quem forma a sociedade somos nós? Nós escrevemos a história com a
ação e com a omissão. Será que escrevemos a história nos dias de hoje mais pela
omissão? Futuras geração vão nos acusar e criticar?
Nós como cristãos devemos dar uma
contribuição concreta, não apenas reclamando e criticando, mas com exemplos
concretos.
Aí eu faço uma pergunta: Onde estão
os nossos queridos leigos cristãos para abordar as grandes questões que a
sociedade hodierna enfrenta – estão preocupados em vestir roupas litúrgicas
para proclamar uma leitura na missa do que usar os novos púlpitos que são os
meios de comunicação para pelo menos levantar questionamentos diante das
limitações que o atual Estado que temos, está nos impondo?
Esta 5ª Semana Social com uma
temática tão rica e atual – um novo Estado, caminho para uma nova sociedade do
bem viver – que podemos fazer para que penetre em todas as nossas
comunidades eclesiais?
Como promover debates e reflexões
pelo menos nos núcleos mais habitados, também com pessoas que estão nas
responsabilidades públicas e políticas.
“Mater et magistra”, encíclica do
beato João XIII, no item nº. 211 já fala: “o sentimento de progressiva, que se
difunde nos países de alto nível de vida, desfaz a ilusão do sonhado paraíso
terrestre. E ao mesmo tempo, vão os homens tomando consciência, cada vez mais
clara, dos direitos invioláveis e universais da pessoa e vai se tornando mais
viva a inspiração a estreitar relações mais justas e mais humanas”.
O atual Estado que temos está nos
proporcionando isso? “Por isso a dimensão teológica revela se necessária para
interpretar e resolver os problemas atuais da convivência humana” (Centesimus
annus, nº. 55 – beato João Paulo II).
O mesmo documento nos fala: “A
finalidade imediata da doutrina social é a de propor os princípios e valores
que possam sustentar uma sociedade digna do homem. Entre estes princípios, o da
solidariedade em certa medida compreende todos os demais ele constitui um dos
princípios basilares da concepção cristã da organização social e política”.
50 anos de Concílio Vaticano II, o
documento Gaudium et Spes, nº. 42, nos fala: “A primeira missão que Jesus
confiou a sua Igreja não é de ordem social, política e econômica, mas de ordem
religiosa. Porém desta dimensão religiosa, deve a Igreja extrair força e luz
para ajudar a organizar a sociedade humana em seus aspectos políticos, sociais
e econômicos, de acordo com os mandamentos da lei de Deus.
Será que como a Igreja está sendo
esta luz para o mundo de hoje?
Que podemos fazer para que as
palavras de Jesus Cristo sejam cada vez mais colocadas em prática quando nos
fala: vossa luz brilhe cada vez mais diante dos homens...
Fonte: CNBB NE-IV
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