sábado, 17 de dezembro de 2011

O papel do leigo na sociedade atual

Com o tema “Participação da sociedade no processo de democratização do Estado” e lema “Estado para que e para quem”, na segunda-feira, 12 de dezembro, no Auditório Paulo IV, na Sé Arquiepiscopal de Teresina aconteceu a 5ª Semana Social Brasileira no Piauí. Essa Semana Social teve como objetivo  mobilizar as comunidades eclesiais, os movimentos, as pastorais, os organismos e as forças sociais para refletir sobre as estruturas sociais, políticas e econômicas do Estado Brasileiro e a participar do processo de sua democratização, promovendo a participação dos pobres e excluídos na construção do país justo, democrático, solidário e sustentável.
Dom Alfredo Sháffler, presidente do Regional CNBB NE-IV e bispo da Diocese de Parnaíba, em seu discurso de abertura desse fórum falou sobre importância da participação dos leigos na democratização do Estado do Piauí. Nosso bispo salientou que os leigos não devem se preocupar apenas em vestir um jaleco ou outra veste litúrgica para servir apenas na Igreja e/ou capela que frequenta, mas o cristão leigo deve também e, de modo muito urgente, agir no mundo da política! Escolhendo bem os representantes da sociedade e lutando pelos direitos de todos!
 
Confira o discurso de nosso pastor na íntegra e com adaptações:

Que Estado temos e que estado queremos e precisamos para que a dignidade da pessoa  humana seja devidamente respeitada? Um novo Estado, caminho para uma nova sociedade de bem viver.
Novos tempos, novas exigências, novos desafios, novas tensões, novas oportunidades. Eis a situação do nosso mundo atual!
Necessitamos construir para nós humanos, uma pátria, um sonho, uma cidade, um lar, a segurança para nos proteger e recuperar o sentido verdadeiro do amor.
Quais as interpelações de hoje que desintegram rapidamente nossa sociedade? Quando se percebe que a economia não busca o bem comum mais o maior lucro?
Os partidos políticos não buscam o bem comum do povo, mas o poder para se aproveitar depois nas mais diversas formas. E quem está levando a melhor fatia no processo das buscas de respostas às inquietações e angustias?
O desejo de transformação na humanidade foi sempre comum dentro do coração e da essência do humano. Basta olhar a história humana. Podemos destacar o povo antigo, com sua busca da terra prometida. Vivemos na constante busca da transformação.
Os princípios comportamentais, transformação da família, da religião, do modo de trabalhar, o emprego, o desenvolvimento tecnológico, a busca do dinheiro custe o que custar.
Temos transformações que nos tiram a liberdade e a segurança, mundo do narcotráfico, da infidelidade familiar, dos vícios, dos aglomerados e da falta de sensibilidade e senso do cuidado pela vida.

Violência, corrupção, leis perversas, o ser frágil e expulso a olhos nus acobertados pela lei de segurança pública.
Porque aconteceram as conferências do norte ao sul referente aos meios de comunicação? Qual a finalidade desta articulação?
E porque hoje está se limitando cada vez mais a outorga dos meios de comunicação de massa aos meio ligados a Igreja?
A sábia palavra da nossa presidente [na posse] colocou um freio nessa questão que estava avançando quando falou: Melhor o barulho nas ruas do que o silêncio nos meios de comunicação...
Quantos altos funcionários públicos estão sendo acusados e investigados agora – à partir dos meios de comunicação!
Percebe-se que difusamente, vive-se na sociedade contemporânea uma nova necessidade de sentido. De outro lado o povo não é uma multidão amorfa, uma massa inerte a ser manipulada e instrumentalizada.
O Documento “Por uma Reforma do Estado da CNBB”, nº.  91, no item 39: “Se a decepção com a democracia formal se dá pela desconfiança na palavra e na prática dos agentes políticos, três princípios – mudanças de práticas, conduta ética e defesa e promoção da vida plena do outro – devem nortear a ação daqueles que tem responsabilidade públicas ocupando ou não cargos eletivos.
É a mudança de prática e não apenas de discurso que vai criar uma nova confiança no agente político. Uma prática que se mostra na transparência de seus atos e de suas relações.
Entra muitas vezes a questão da infraestrutura do próprio Estado e da própria legislação que impede em lugar de ajudar na construção de uma vida mais digna. Ex. Reunião com nove parlamentares – Cocal 1.068 dias do rompimento da Barragem Algodões I.
O Documento de Aparecida, no nº. 428: “É necessário que os Estados considerem com seriedade e verdade a situação do sistema de justiça...”
Pessoalmente vejo em grande parte que de um lado se percebe que o atual Estado que temos não atende mais as necessidades da sociedade. Isso fica cada vez mais claro na percepção da opinião pública. Mas eu vejo que em grande parte fica somente nisso.
Será que não falta uma clara percepção quem forma a sociedade somos nós? Nós escrevemos a história com a ação e com a omissão. Será que escrevemos a história nos dias de hoje mais pela omissão? Futuras geração vão nos acusar e criticar?
Nós como cristãos devemos dar uma contribuição concreta, não apenas reclamando e criticando, mas com exemplos concretos.
Aí eu faço uma pergunta: Onde estão os nossos queridos leigos cristãos para abordar as grandes questões que a sociedade hodierna enfrenta – estão preocupados em vestir roupas litúrgicas para proclamar uma leitura na missa do que usar os novos púlpitos que são os meios de comunicação para pelo menos levantar questionamentos diante das limitações que o atual Estado que temos, está nos impondo?
Esta 5ª Semana Social com uma temática tão rica e atual – um novo Estado, caminho para uma nova sociedade do bem viver – que  podemos fazer para que penetre em todas as nossas comunidades eclesiais?
Como promover debates e reflexões pelo menos nos núcleos mais habitados, também com pessoas que estão nas responsabilidades públicas e políticas.
“Mater et magistra”, encíclica do beato João XIII, no item nº. 211 já fala: “o sentimento de progressiva, que se difunde nos países de alto nível de vida, desfaz a ilusão do sonhado paraíso terrestre. E ao mesmo tempo, vão os homens tomando consciência, cada vez mais clara, dos direitos invioláveis e universais da pessoa e vai se tornando mais viva a inspiração a estreitar relações mais justas e mais humanas”.
O atual Estado que temos está nos proporcionando isso? “Por isso a dimensão teológica revela se necessária para interpretar e resolver os problemas atuais da convivência humana” (Centesimus annus, nº. 55 – beato João Paulo II).
O mesmo documento nos fala: “A finalidade imediata da doutrina social é a de propor os princípios e valores que possam sustentar uma sociedade digna do homem. Entre estes princípios, o da solidariedade em certa medida compreende todos os demais ele constitui um dos princípios basilares da concepção cristã da organização social e política”.
50 anos de Concílio Vaticano II, o documento Gaudium et Spes, nº. 42, nos fala: “A primeira missão que Jesus confiou a sua Igreja não é de ordem social, política e econômica, mas de ordem religiosa. Porém desta dimensão religiosa, deve a Igreja extrair força e luz para ajudar a organizar a sociedade humana em seus aspectos políticos, sociais e econômicos, de acordo com os mandamentos da lei de Deus.
Será que como a Igreja está sendo esta luz para o mundo de hoje?
Que podemos fazer para que as palavras de Jesus Cristo sejam cada vez mais colocadas em prática quando nos fala: vossa luz brilhe cada vez mais diante dos homens...


Fonte: CNBB NE-IV

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