No mês, em que a Igreja no Brasil, pede que nos dediquemos mais à leitura da Palavra de Deus e homenageando o grande tradutor da Bíblia Sagrada, São Jerônimo.
Às vésperas do "Ano da Fé" (2012-2013) que o papa Bento XVI vai inaugurar em 11/10 próximo, é válido muito bom entender muito bem a diferença entre "Fé humana" e "Fé Divina" e relação disso com a Bíblia. Isso, esclarece o texto que publicamos abaixo. Confira-o:
Padre Arnold Damen nasceu na província de North Brabant, Holanda, em 20 de março de 1815. Foi admitido na Companhia de Jesus em 21 de novembro de 1837, e esteve no grupo de jovens noviços trazidos para o seu país pelo Padre DeSmet, renomado missionário jesuíta para os índios americanos.
Às vésperas do "Ano da Fé" (2012-2013) que o papa Bento XVI vai inaugurar em 11/10 próximo, é válido muito bom entender muito bem a diferença entre "Fé humana" e "Fé Divina" e relação disso com a Bíblia. Isso, esclarece o texto que publicamos abaixo. Confira-o:
A Igreja ou a Bíblia?
Padre Arnold Damen nasceu na província de North Brabant, Holanda, em 20 de março de 1815. Foi admitido na Companhia de Jesus em 21 de novembro de 1837, e esteve no grupo de jovens noviços trazidos para o seu país pelo Padre DeSmet, renomado missionário jesuíta para os índios americanos.
Fr.
Arnold Damen, S.J. (1815 - 1890) |
Pequena maravilha,
pois, pela sua majestosa presença e força de eloquência, o Padre Damen, como missionário,
atingiu um sucesso que ultrapassou qualquer outro,
antes — ou desde então —, que se saiba, na América. O inflamado zelo apostólico
deste amado e piedoso sacerdote pode ser apenas estimado pelas vinte mil conversões
ao catolicismo pelas quais ele foi responsável, amiúde recebendo sessenta ou
setenta almas para a Igreja em um dia. É também digno de nota que, em meio ao
seu notável trabalho, ele também conseguiu fundar e organizar as grandes instituições
jesuítas de Chicago.
O que explica a
realização inspiradora do Padre Damen? Como um escritor expressou: “Ele não se
importou com aplausos ou críticas. Ele estava trabalhando para salvar almas”.
Em outras palavras, suas nobres realizações foram frutos de imensa caridade. Ou
seja, a caridade no sentido mais verdadeiro: Ele amava a Deus e seus
companheiros tanto que ele não poupava a energia ou o esforço que fossem necessários
para arrancar uma alma do erro espiritual e da escuridão que trariam a sua
perda eterna. E para este santo jesuíta, tal era o destino certo e sempre
presente fora da verdadeira Igreja.
O Padre Damen pregou
numa época relativamente recente, quando os católicos não apenas ainda universalmente
acreditavam, mas viviam segundo o infalivelmente declarado, imutavelmente
constante dogma de Fé: “Fora da Igreja não há salvação”. Esse foi, de fato,
todo o credo e ensino pelo qual ele efetivamente converteu tantos.
Introdução
O seguinte sermão é
tão relevante hoje em dia quanto o foi há mais de 100 anos, quando pela
primeira vez foi pregado pelo Padre Arnold Damen, S.J.
“’Não se pode ter Deus
como Pai, se não tiver a Igreja como Mãe’, e, da mesma forma, não se pode ter o
Verbo de Deus como fé, se não tiver a Igreja como mestra. É somente a infalível
autoridade docente da Igreja, como foi prometido por Cristo, que preserva a
Palavra de Deus da interpretação errônea”. Essa é a essência da doutrina do
zeloso sacerdote. É também a essência do verdadeiro Cristianismo, como o Padre
Damen prodigamente prova a partir da própria Escritura e do puro senso comum.
Todo leitor sincero da
Bíblia deseja saber a verdadeira relação que Deus estabeleceu entre a Sua
Igreja e a Sagrada Escritura. Nós, portanto, convidamos todos que amam a Bíblia
a ler a exposição do Padre Damen com uma mente aberta, não seja que, lendo as
Escrituras, “deturpem-nas para sua própria destruição” (2 Pe 3, 16).
Sermão do Padre Damen:
I. Queridos e Amados Cristãos: — Quando nosso Divino
Salvador enviou os Seus Apóstolos e os Seus Discípulos por todo o universo a
pregar o Evangelho para toda criatura, Ele estabeleceu as condições para a salvação
desta forma: “Aquele que crer e for batizado”, disse o Filho de Deus Vivo,
“será salvo, mas aquele que não crer será condenado” (Lc 16, 16). Aqui, portanto,
Nosso Bendito Senhor estabeleceu as duas condições da salvação: Fé e Batismo.
Aquele que crer e for batizado será salvo, mas aquele que não crer será condenado
— ou é amaldiçoado. Portanto, duas condições da salvação: Fé e Batismo.
Falarei, nesta tarde, da condição da Fé.
Devemos ter Fé para
sermos salvos, e devemos ter a Fé Divina, não uma fé humana. A fé humana
não salvará o homem, mas somente a Fé Divina. Crer em tudo o que Deus ensinou
baseados na autoridade de Deus, e crer sem dubitação, sem hesitação; porque,
desde o momento em que se começa a duvidar ou hesitar, começa-se a desconfiar
da autoridade de Deus, e, portanto, a insultar Deus, duvidando da Sua palavra.
A Fé Divina, portanto, é crer sem duvidar, sem hesitar. A fé humana é quando
cremos em alguma coisa baseados na autoridade dos homens — ou autoridade
humana. Isso é a fé humana. Mas a Fé Divina é crer sem duvidar, sem hesitar, em
tudo o que Deus revelou, baseados na autoridade de Deus, na palavra de Deus.
Portanto, meu querido
povo, não é uma questão de indiferença que religião um homem professa, desde
que ele seja um bom homem.
Os senhores ouvem
dizer hoje em dia, neste século XIX de pouca fé, que não importa qual religião
um homem professa desde que ele seja um bom homem. Isso é heresia, meu querido
povo, e eu provarei para os senhores que é assim. Se o que um homem acredita é
matéria de indiferença, desde que ele seja um bom homem, então é inútil para
Deus fazer qualquer revelação que seja. Se um homem é livre para rejeitar o que
Deus revela, para que motivo Cristo enviou Seus Apóstolos e discípulos para
ensinar todas as nações, se aquelas nações são livres para crer ou rejeitar os
ensinamentos dos Apóstolos ou discípulos? Vê-se logo que isso seria um insulto
para Deus.
Se Deus revela algo ou
ensina algo, Ele pretende ser crido. Ele quer ser crido toda vez que ensina ou
revela algo. O homem é obrigado a crer em tudo o que Deus revelou, pois, meu
querido povo, somos obrigados a louvar a Deus tanto com nossa razão e inteligência
quanto com nosso coração e vontade. Deus é mestre do homem todo. Ele reclama
sua vontade, seu coração, sua razão e sua inteligência.
Que homem em sã
consciência, a despeito de a que denominação, igreja ou religião ele pertença,
negaria que somos obrigados a crer no que Deus ensinou? Tenho certeza de que
não há nenhum cristão que negará que somos obrigados a crer em tudo o que Deus
revelou. Portanto, não é matéria de indiferença que religião um homem professa.
Ele precisa professar a religião verdadeira se quiser ser salvo.
Mas qual é a
verdadeira religião? Crer em tudo o que Deus ensinou. Tenho certeza de que
mesmo meus irmãos protestantes admitirão que isso é certo; porque, se não,
diria que não são, de modo algum, cristãos.
“Mas o que é a
verdadeira Fé?”
“A verdadeira Fé”,
dizem os amigos protestantes, “é crer no Senhor Jesus”.
De acordo, os
católicos acreditam nisso. Diga-me o que você quer dizer por crer no Senhor
Jesus.
“Você deve crer”, diz
o meu amigo Protestante, “que Ele é o Filho do Deus Vivo”.
Novamente de acordo.
Graças a Deus, podemos concordar em alguma coisa. Cremos que Jesus Cristo é o
Filho do Deus Vivo, que Ele é Deus. Nisso todos concordamos, exceto os
unitarianos e os socinianos, mas os deixaremos aparte nesta noite. Se Cristo é
Deus, então devemos crer em tudo o que Ele ensina. Não é assim, meus queridos e
amados irmãos e irmãs protestantes? E isso é a verdadeira Fé, não é?
“Bem, sim”, diz meu
amigo protestante, “acho que é a verdadeira Fé. Para crer que Jesus é o Filho
do Deus Vivo, devemos crer em tudo o que Cristo ensinou”.
Nós, católicos,
dizemos o mesmo, e nisso concordamos novamente. Devemos crer em Cristo,
portanto, e isso é a verdadeira Fé. Devemos crer em tudo o que Cristo ensinou —
o que Deus revelou — e sem essa Fé não há salvação; sem essa Fé não há nenhuma
esperança do Céu; sem essa Fé há eterna condenação! Temos as palavras de Cristo
que o atestam: “Aquele que não crer será condenado”, diz Cristo.
II. Mas se Cristo, meu querido e amado povo, ordena-me, sob
pena de eterna condenação, crer em tudo o que Ele ensinou, Ele precisa
dar-me o meio para conhecer o que Ele ensinou.
Se, portanto, Cristo
ordena-me, sob pena de eterna condenação, Ele é obrigado a dar-me o meio de conhecer
o que Ele ensinou. E o meio que Cristo nos dá para conhecê-lo precisa estar o
tempo todo ao alcance de todas as pessoas.
Em segundo lugar, o
meio que Deus nos dá para conhecer o que Ele ensinou precisa ser adaptado às capacidades
de todas as inteligências — até a mais tola. Porque até mesmo aqueles do mais
tolo entendimento têm o direito à salvação, e, consequentemente, eles têm o
direito ao meio pelo qual aprenderão as verdades que Deus ensinou, para que possam
crer nelas e ser salvos.
O meio que Deus nos dá
para conhecer o que Ele ensinou deve ser um meio infalível. Porque, se for
um meio que possa extraviar-nos, não pode, em absoluto, ser um meio. Precisa
ser um meio infalível, de modo que, se um homem faz uso dele, infalivelmente,
sem medo de engano ou erro, será levado a um conhecimento de todas as verdades
que Deus ensinou.
Não creio que haja
ninguém aqui presente — não me importo com o que ele seja, cristão ou incrédulo
— que possa objetar às minhas premissas. E essas premissas são a base do meu
discurso e do meu raciocínio, e, portanto, desejo que os senhores as tenham em
mente. Repeti-las-ei, pois sobre essas premissas se assenta toda a força do meu
discurso e raciocínio.
Se Deus me ordena, sob
pena de eterna condenação, que creia em tudo o que Ele ensinou, Ele é obrigado
a dar-me o meio para conhecer o que Ele ensinou. E o meio que Deus me dá
precisa ter estado o tempo todo ao alcance de todas as pessoas — precisa ser
adaptado às capacidades de todos os intelectos, precisa ser um meio infalível
para nós, de modo que, se um homem faz uso dele, será levado ao conhecimento de
todas as verdades que Deus ensinou.
III. Deu-nos Deus tal meio? “Sim”, dizem meus amigos
protestantes, “Ele no-lo deu”. E do mesmo modo diz o católico: Deus nos deu tal
meio. Qual é o meio que Deus nos deu pelo qual nós aprenderemos a verdade
que Deus revelou? “A Bíblia”, dizem meus amigos protestantes, “a Bíblia, a
totalidade da Bíblia, e nada além da Bíblia”. Mas nós, católicos, dizemos: “Não;
não a Bíblia e sua interpretação privada, mas a Igreja do Deus Vivo”.
Provarei os fatos, e
desafiarei todos os meus irmãos separados — e todos os pregadores no assunto —
a provar que está errado o que eu direi nesta noite. Digo, pois, que não é a
interpretação privada da Bíblia que foi indicado por Deus para ser a mestra do
homem, mas a Igreja do Deus Vivo.
Porque, meu querido
povo, se Deus pretendeu que o homem devesse aprender a Sua religião de um livro
— a Bíblia —, com certeza Deus teria dado esse livro ao homem; Cristo teria
dado esse livro ao homem. Fê-lo Ele? Não o fez. Cristo enviou os Seus Apóstolos
por todo o universo e disse: “Ide, pois, e ensinai todas as nações, batizando-as
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a observar todas as
coisas que Eu vos ordenei”.
Cristo não disse:
“Sentai e escrevei Bíblias e espalhai-as pela terra, e deixai todo homem ler a
sua Bíblia e julgar por si mesmo”. Se Cristo o houvesse dito, jamais haveria
existido sobre a terra uma Cristandade, mas sim uma Babel e confusão, e nunca
uma Igreja, a união de um corpo. Portanto, Cristo nunca disse aos Seus
Apóstolos: “Ide e escrevei Bíblias e distribuí-as, e deixai cada um julgar por
si mesmo”. Essa adição foi reservada para o século XVI, e temos visto o
resultado disso. Desde o século XVI tem aparecido religião sobre religião, e
igrejas sobre igrejas, e lutando e querelando umas com as outras. E tudo por
causa da interpretação privada da Bíblia.
Cristo enviou Seus
Apóstolos com autoridade para ensinar as nações, e nunca lhes deu nenhuma ordem
de escrever a Bíblia. E os Apóstolos foram e pregaram por toda parte, e
implantaram a Igreja de Deus por toda a terra, mas nunca pensaram em escrever.
A primeira palavra
escrita o foi por São Mateus, e ele escreveu para o proveito de uns poucos
indivíduos. Ele escreveu o Evangelho cerca de sete anos após Cristo ter deixado
a terra, de modo que a Igreja de Deus, estabelecida por Cristo, existiu por
sete anos antes que uma linha fosse escrita do Novo Testamento.
São Marcos escreveu
por volta de dez anos depois que Cristo deixou a terra; São Lucas, cerca de
vinte e cinco anos, e São João, cerca de sessenta e três anos após Cristo ter
estabelecido a Igreja de Deus. São João escreveu a última parte da Bíblia — o
Livro do Apocalipse — cerca de sessenta e cinco anos depois de Cristo ter
deixado esta terra e a Igreja de Deus ter sido estabelecida. A religião
católica existiu por sessenta e cinco anos antes que a Bíblia tivesse sido
completada, antes que ela fosse escrita.
Agora, pergunto-lhes,
meus queridos e amados irmãos separados, onde esses cristãos, que viveram
durante o período entre o estabelecimento da Igreja de Jesus e a finalização da
Bíblia, esses verdadeiros cristãos, bons cristãos, iluminados cristãos? Conheceram
eles a religião de Jesus? Onde está o homem que ousará dizer que aqueles que
viveram desde o tempo em que Cristo foi-Se para o Céu até o tempo em que a
Bíblia foi acabada não foram cristãos? Admite-se por todos os lados, por todas
as denominações, que eles foram de fato os melhores cristãos, as primícias do
Sangue de Jesus Cristo.
Mas como eles
aprenderam o que deviam fazer para salvar suas almas? Foi na Bíblia que o
aprenderam? Não, porque a Bíblia não havia sido escrita. E Nosso Senhor
teria deixado a Sua Igreja por sessenta e cinco anos sem um mestre, se a Bíblia
é a mestra do homem? Segurissimamente não.
Foram cristãos os
Apóstolos, pergunto-lhes, meus caros amigos protestantes? Vocês dizem: “Sim, senhor;
eles foram, de fato, os fundadores do cristianismo”. Então, meus queridos
amigos, nenhum dos Apóstolos jamais leu a Bíblia; nenhum deles exceto, talvez,
São João. Porque todos eles morreram mártires da Fé de Jesus Cristo e nunca
viram a capa da Bíblia. Todos eles morreram mártires e heróis da Igreja de
Jesus antes que a Bíblia fosse acabada.
Como, então, aqueles
cristãos que viveram nos primeiros sessenta e cinco anos após a ascensão de
Cristo — como eles souberam o que deveriam fazer para salvar suas almas? Eles
o souberam precisamente do mesmo modo que os senhores o sabem, meus queridos
amigos católicos. Os senhores o sabem pelos ensinamentos da Igreja de Deus, e
assim o souberam os cristãos primitivos.
IV. Não por apenas sessenta e cinco anos Cristo deixou a
Igreja que Ele estabelecera sem uma Bíblia, mas por mais de trezentos
anos. A Igreja de Deus foi estabelecida e continuou se espalhando por todo
o globo sem a Bíblia por mais de trezentos anos. Em todo aquele tempo, o povo
não soube em que consistisse a Bíblia.
Nos tempos dos
Apóstolos havia muitos falsos evangelhos. Havia o Evangelho de Simão, o
Evangelho de Nicodemos, de Maria, de Barnabé, e o Evangelho da Infância de
Jesus. Todos esses evangelhos foram espalhados entre o povo, e o povo não sabia
quais deles eram inspirados e quais eram falsos e forjados. Mesmo os próprios
doutos disputavam se deveria ser dada preferência ao Evangelho de Simão ou
àquele de Mateus — ao Evangelho de Nicodemos ou ao Evangelho de Marcos, ao
Evangelho de Maria ou àquele de Lucas, ao Evangelho da Infância de Jesus ou ao
Evangelho de São João Evangelista.
E assim era com
respeito às epístolas: Muitas falsas epístolas foram escritas, e o povo esteve
perdido por mais de trezentos anos, sem saber quais eram falsas ou forjadas, e
quais inspiradas. E, portanto, eles não sabiam em que consistiam os livros da
Bíblia.
Não foi antes do
quarto século que o Papa de Roma, a Cabeça da Igreja, o sucessor de São Pedro,
reuniu os Bispos do mundo num concílio. E naquele concílio decidiu-se que a
Bíblia, como nós, católicos, a temos hoje, é a Palavra de Deus, e que os
Evangelhos de Simão, Nicodemos, Maria, a Infância de Jesus e Barnabé, e todas
aquelas outras epístolas eram forjadas, ou, pelo menos, inautênticas; que pelo
menos não havia nenhuma evidência da sua inspiração, e que os Evangelhos dos
Santos Lucas, Mateus, Marcos e João, e o Livro do Apocalipse, foram inspirados
pelo Espírito Santo.
Até aquele tempo, todo
o mundo, por trezentos anos, não soube o que era a Bíblia; portanto, eles não
podiam ter a Bíblia como guia, porque eles não sabiam em que consistia a
Bíblia. Teria nosso Divino Salvador, e Ele pretendesse que o homem aprendesse a
Sua religião de um livro, deixado o mundo cristão por trezentos anos sem aquele
livro? Segurissimamente não.
Monge copista - Idade Média |
Antes que a arte da
impressão fosse inventada, Bíblias eram raridade; Bíblias eram coisas
caras. Ora, todos os senhores devem estar cientes, se já leram alguma coisa de
História, que a arte da impressão foi inventada há pouco mais de quatrocentos
anos — pelo meio do século XV — e cerca de cem anos antes que houvesse um
protestante no mundo.
Como eu disse, antes
que a impressão fosse inventada, livros eram coisas raras e caras. Os
historiadores nos dizem que no século XI — oitocentos anos atrás — Bíblias eram
tão raras e tão caras que era necessária uma fortuna, uma fortuna considerável,
para comprar uma cópia da Bíblia! Antes da arte da impressão, tudo tinha de ser
feito com a pena sobre pergaminho de couro de ovelha. Era, portanto, uma
operação tediosa e lenta — uma operação cara.
Ora, para chegar ao
provável custo de uma Bíblia naquele tempo, suponhamos que um homem devia trabalhar
dez anos para fazer uma cópia da Bíblia e ganhar um dólar por dia. Bem, então o
custo da Bíblia seria de $3.650. Agora, suponhamos que um homem devia trabalhar
copiando a Bíblia por vinte anos, como os historiadores dizem que teria sido
necessário naquele tempo, não tendo as conveniências e melhorias para ajudá-lo,
como as temos hoje em dia. Então, por um dólar ao dia, por vinte anos, o custo
de uma Bíblia seria de cerca de $8.000.
Suponham que eu
chegasse para os senhores e dissesse: “Meu querido povo, salvem suas almas, porque,
se perderem suas almas, tudo estará perdido”. Os senhores perguntariam: “O que
devemos fazer para salvar as nossas almas?”. O pregador protestante lhes diria:
“Os senhores precisam comprar uma Bíblia; podem comprá-la em tal ou tal loja”.
Os senhores perguntariam o preço e seriam informados de que é de $8.000. Exclamariam,
então: “O Senhor nos salve! E não podemos ir para o Céu sem esse livro?”. A
resposta seria: “Não; os senhores precisam ter a Bíblia e lê-la”. Murmuram pelo
preço, mas lhes perguntam: “Sua alma não vale $8.000?”. Sim, de fato o vale,
mas você diz que não tem o dinheiro, e, se não pode comprar uma Bíblia, e sua
salvação depende disso, evidentemente terá de ficar de fora do Reino dos Céus.
Seria uma condição desesperadora, sem dúvida.
Por mil e quatrocentos
anos o mundo foi deixado sem uma Bíblia — nem um em dez mil, nem um em
vinte mil, antes que a arte da impressão fosse inventada, tinha a Bíblia. E
teria nosso Divino Senhor deixado o mundo sem aquele livro, se ele era
necessário para a salvação do homem? Segurissimamente não.
VI. Mas suponhamos, por um momento, que todos tivessem
Bíblias, que as Bíblias tivessem sido escritas desde o princípio, e que todo
homem, mulher e criança tivessem uma cópia. Que bem seria aquele livro para
pessoas que não soubessem como lê-lo? É algo cego para tais pessoas.
Mesmo hoje metade dos
habitantes da terra não podem ler. Além disso, como a Bíblia foi escrita em grego
e hebraico, seria necessário saber essas línguas para ser capaz de lê-la.
Mas se sabe que hoje a
temos traduzida para o francês, inglês e outras línguas do presente. Sim, mas
você tem certeza que ter uma tradução fiel? Se não, você não tem a Palavra de
Deus. Se você tem uma falsa tradução, isso é obra humana. Como você pode ter
certeza disso? Como descobrirá se tem uma tradução fiel do grego e hebraico?
“Eu não sei grego nem
hebraico”, diz o meu amigo separado; “para a minha tradução, dependo da opinião
dos entendidos”.
Bem, então, meus
queridos amigos, suponham que os entendidos estejam divididos nas suas
opiniões, e alguns deles dissessem que ela é boa, e alguns, falsa? Então já era
a sua fé; necessariamente, começará a duvidar e hesitar, porque não sabe se a
tradução é boa.
Agora, a respeito da
tradução protestante da Bíblia, permitam-me dizer-lhes que os mais entendidos
dentre os protestantes lhes dizem que a sua tradução — a edição do Rei Tiago —
e uma tradução realmente falha e cheia de erros. Os senhores sabem de muitos
entendidos teólogos, pregadores e bispos que escreveram volumes inteiros para
apontar todos os erros que existem na tradução do Rei Tiago, e protestantes de
várias denominações reconhecem isso.
Alguns anos atrás,
quando eu vivia em St. Louis, houve naquela cidade uma convenção de ministros.
Todas as denominações foram convidadas, sendo o objetivo organizar-se para uma
nova tradução da Bíblia, e dá-la ao mundo. Os procedimentos da convenção eram publicados
diariamente no Missouri Republican. Um presbiteriano muito entendido, creio que
fosse, levantou-se, e, para ressaltar a necessidade de se fazer uma nova tradução
da Bíblia, disse que na presente tradução protestante da Bíblia havia nada
menos do que trinta mil erros.
E vocês dizem, meus
queridos amigos protestantes, que a Bíblia é o seu guia e mestre. Que mestre,
com trinta mil erros! O Senhor nos livre de tal mestre! Um erro já é ruim o
suficiente, mas trinta mil é um pouco demais.
Outro pregador
levantou-se na convenção — penso que ele era batista — e, ressaltando a
necessidade de fazer uma nova tradução da Bíblia, disse que pelos últimos
trinta anos o mundo estava sem a Palavra de Deus, porque a Bíblia que nós
tínhamos não era, em absoluto, a Palavra de Deus.
Aí estão seus próprios
pregadores, para vocês. Todos vocês lêem os jornais, sem dúvida, meus amigos, e
devem saber o que aconteceu na Inglaterra há alguns anos. Uma petição foi
enviada ao Parlamento para a liberação de alguns milhares de libras esterlinas
para se fazer uma nova tradução da Bíblia. E esse movimento foi encabeçado e
dirigido por bispos e clérigos protestantes.
VII. Mas, meu querido
povo, como nós podemos estar certos de nossa fé? Vocês dizem que a Bíblia é o
seu guia, mas não sabem se a têm. Suponhamos, por um momento, que todos
tivessem uma Bíblia. Se todos a lessem e tivessem uma tradução fiel, mesmo
assim ela não poderia ser o guia do homem, porque a interpretação privada da
Bíblia não é infalível, mas, pelo contrário, sumamente falível. É a fonte de
todos os tipos de erros e heresias, e de todos os tipos de doutrinas blasfemas.
Não se choquem, meus queridos amigos; fiquem calmos e escutem os meus argumentos.
Há agora, no mundo todo,
trezentas e cinquenta denominações diferentes de igrejas, e todas elas dizem
que a Bíblia é a sua guia e mestra. E suponho que todas são sinceras. São todas
elas igrejas verdadeiras? Isso é impossível. A verdade é una como Deus é uno, e
não pode haver nenhuma contradição. Todo homem em sã consciência vê que
nenhuma delas pode ser verdadeira, porque elas divergem e contradizem umas as outras,
e não podem, portanto, ser todas verdadeiras. Os protestantes dizem que o homem
que ler a Bíblia reta e piedosamente tem a verdade, e todos eles dizem que a
lêem retamente.
Suponhamos que haja um
ministro da igreja episcopal. Ele é um homem sincero, honesto, bem-intencionado
e piedoso. Ele lê a sua Bíblia num espírito piedoso, e, da palavra da Bíblia,
ele diz que é claro que deve haver bispos. Porque, sem bispos, não pode haver
sacerdotes, sem sacerdotes não haveria Sacramentos, e sem Sacramentos não
haveria Igreja. O presbiteriano é um homem sincero e bem-intencionado. Ele
também lê a Bíblia, e deduz que não deve haver bispos, mas somente presbíteros.
“Aqui está a Bíblia”, diz o episcopaliano; e “aqui está a Bíblia para provar
que você está mentindo”, diz o presbiteriano. E, mesmo assim, ambos são homens
piedosos e bem-intencionados.
Então chega o batista.
Ele é um homem bem-intencionado, honesto, e também piedoso. “Bem”, diz o
batista, “vocês já foram batizados?” “Eu fui”, diz o episcopaliano, “quando era
bebê”.
“Eu também”, diz o
presbiteriano, “o fui quando era bebê”. “Mas”, diz o batista, “vocês vão para o
Inferno, tão certamente quanto vocês vivem”.
Então chega o
unitariano, bem-intencionado, honesto e sincero. “Bem”, diz o unitariano,
“permitam-me dizer-lhes que vocês são um punhado de idólatras. Vocês louvam
como Deus um homem que não é, em absoluto, Deus”. E ele dá vários textos da
Bíblia para prová-lo, enquanto os demais fecham os ouvidos para não ouvir as
blasfêmias do unitariano. E todos defendem que possuem o verdadeiro significado
da Bíblia.
Então chega o
metodista, e diz: “Meus amigos, vocês têm alguma religião que seja?”.
“Certamente a temos”, dizem eles. “Alguma vez vocês já sentiram a religião”,
diz o metodista, “o espírito de Deus se movendo dentro de vocês?” “Não tem
sentido”, diz o presbiteriano, “nós somos guiados pela nossa razão e juízo”.
“Bem”, diz o metodista, “se você nunca sentiu a religião, você nunca a teve, e
irá eternamente para o Inferno”.
Em seguida, chega o
universalista, e os ouve ameaçando uns aos outros com o eterno fogo infernal.
“Ora”, diz ele, “vocês são uma classe estranha de pessoas. Vocês não entendem a
Palavra de Deus? Não existe nenhum Inferno. Essa ideia é boa o suficiente para
amedrontar velhas e crianças”, e ele o prova pela Bíblia.
Então chega o Quaker.
Ele os insta a não discutir, e aconselha-os a não se batizar. Ele é o mais
sincero dos homens, e mostra a Bíblia como sua fé.
Outro chega e diz:
“Batizem apenas os homens, e não as mulheres. Porque a Bíblia diz que, a menos
que o homem nasça novamente da água e do Espírito Santo, ele não poderá entrar
no Reino dos Céus”. “Então”, diz ele, “com as mulheres está tudo certo, mas
batizem os homens”.
Então chega o Shaker,
e diz: “Vocês são um povo presunçoso. Vocês não sabem que a Bíblia lhes diz que
devem trabalhar pela sua salvação com temor e tremor, e vocês não tremem nem um
pouco. Meus irmãos, se vocês querem ir para o Céu, vibrem, meus irmãos, vibrem!”.
VIII. Eu juntei aqui
sete ou oito denominações, divergindo uma da outra, ou entendendo a Bíblia de
diferentes modos, para ilustrar os frutos da interpretação privada. Que seria
se eu juntasse as trezentas e cinquenta diferentes denominações, todas tomando
a Bíblia por sua guia e mestra, e todas divergindo uma da outra? Estão
todas corretas? Uma diz que há Inferno, e outra diz que não há Inferno.
Estão ambas certas? Uma diz que Cristo é Deus; outra diz que Ele não O é. Uma
diz que elas não são essenciais. Uma diz que o Batismo é um requisito, e outra
diz que não. Estão ambas certas? Isso é impossível, meus amigos; todas não
podem estar certas.
Qual, então, está
certa? Aquele que tem o verdadeiro significado da Bíblia, diz você. Mas a
Bíblia não nos diz quem é ele — a Bíblia nunca resolve a querela. Ela não
é a mestra.
A Bíblia, meu querido
povo, é um bom livro. Nós, católicos, consentimos que a Bíblia é a Palavra de
Deus, a mensagem inspirada, e todo católico é exortado a ler a Bíblia. Mas, boa
como é, a Bíblia, meus queridos amigos, não se explica a si mesma. Ela é um bom
livro, a Palavra de Deus, a mensagem inspirada, mas a sua interpretação da
Bíblia não é mensagem inspirada. O seu entendimento da Bíblia não é inspirado —
porque, com certeza, você não pensa ser inspirado!
É com a Bíblia assim
como é com a Constituição dos Estados Unidos. Quando Washington e os seus associados
estabeleceram a Constituição e a Lei Suprema dos Estados Unidos, eles não
disseram para o povo dos Estados: “Que todo homem leia a Constituição e governe-se
a si mesmo; que todo homem faça a sua própria explicação da Constituição”. Se Washington
tivesse feito isso, nunca teriam existido os Estados Unidos. Todas as pessoas
teriam se dividido entre si, e o país teria sido picado numa centena de diferentes
divisões e governos.
O que fez Washington?
Ele deu ao povo a Constituição é a Lei Suprema, e indicou a sua Suprema Corte e
Supremo Juiz da Constituição. E esses devem dar a verdadeira explicação da
Constituição para todos os cidadãos americanos — todos, sem exceção, do presidente
ao mendigo. Todos estão obrigados a seguir as decisões da Suprema Corte, e é
isso, e só isso, que pode manter o povo unido, e manter a união dos Estados
Unidos. No momento em que as pessoas começarem a fazer a sua própria
interpretação da Constituição, será o fim da união.
E assim é em todo
governo — assim é em todo lugar. Há uma Constituição, uma Suprema Corte ou Lei,
um Supremo Juiz daquela Constituição, e a Suprema Corte deve dar-nos o
significado da Constituição e a Lei.
Em todo país bem
regulado deve haver algo como isso — uma Suprema Lei, uma Suprema Corte, um
Supremo Juiz, para que todo o povo cumpra. Há em todo país uma Suprema Lei, uma
Suprema Corte, um Supremo Juiz; e todos são obrigados pelas decisões, e sem
isso nenhum governo se manteria. Mesmo entre as tribos indígenas existe essa
condição. Como eles se mantêm unidos? Pelo seu chefe.
Assim, nosso Divino
Salvador também estabeleceu a Sua Suprema Corte — Seu Supremo Juiz — para
dar-nos o verdadeiro significado das Escrituras, e para dar-nos a verdadeira
revelação e as doutrinas da Palavra de Jesus. O Filho do Deus Vivo empenhou a
Sua Palavra que a Suprema Corte é infalível, e, portanto, o verdadeiro católico
nunca duvida.
“Eu creio”, diz o
católico, “porque a Igreja me ensina assim. Eu creio na Igreja porque Deus me
mandou crer nela. Ele disse: ‘Ouvi a Igreja, e aquele que não ouvir a Igreja
seja para ti como um pagão e um publicano’. ‘Aquele que crer em vós crê em
Mim’, disse Cristo, ‘e aquele que vos desprezar, despreza a Mim.’” Portanto, o
católico crê porque Deus falou, e baseado na autoridade de Deus.
Mas os nossos amigos
protestantes dizem: “Nós cremos na Bíblia”. Muito bem; como você entende a Bíblia?
“Bem”, diz o protestante, “no melhor da minha opinião e julgamento, este é o
significado do texto”. Ele não tem certeza disso, mas, no melhor da sua opinião
e julgamento. Isso, meus amigos, é apenas testemunho de um homem — é apenas fé
humana, não Fé Divina.
É somente por meio da
Fé Divina que damos honra e glória a Deus, por que adoramos a Sua infinita sabedoria
e veracidade, e essa adoração e louvor é necessária para a salvação.
Fonte: Católicos online. Acesso em: 24/VII/2012.
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