terça-feira, 4 de dezembro de 2012

SECA NO PIAUÍ, por Dom Alfredo Schaffler

Muitas vezes escutamos nos meios de comunicação da estiagem que atingiu o nosso Nordeste. Umas regiões a mais e outras menos. Escutamos do Estado da Bahia e Pernambuco, mas raras vezes está saindo uma notícia do nosso Piauí. Será que no nosso Piauí não aconteceu também uma grande estiagem? 
Temos municípios que ao longo do ano não tiveram nem cem milímetros de chuva. Municípios que nem conseguiram iniciar o plantio. No Centro Sul do nosso Estado, na região de Oeiras, São Raimundo Nonato e Picos, o povo grita por água. 
A água é um direito de cada ser humano. A água é algo necessário para a sobrevivência, isso não precisa se explicar para ninguém. Muito está se falando das cisternas que em parte o governo mandou construir. Sem dúvida nenhuma, uma cisterna numa casa no interior onde não se tem água perto da casa, é um alívio, é uma ajuda. Mas será que é a solução? 
A cisterna tem água quando [tem] chovido, porque na cisterna só tem água quando cai do telhado no tempo da chuva. Claro que se pode dizer: “Com um carro-pipa pode se encher a cisterna e assim armazenar a água”. Mas será que o carro-pipa chega em todas as casas onde se tem cisternas no nosso interior? Não temos muitas casas que estão se situando distante das estradas e no caminho tem tanta areia que qualquer caminhão vai atolar? 
Se cada vez mais pessoas procuram se arranjar na cidade, por quê? Se cada vez mais pessoas estão deixando o nosso interior, as roças onde plantam o seu feijão que compramos na feira, existe uma explicação. 
No centro do nosso Estado foram perfurados mais de mil poços artesianos e nunca foram colocados para funcionar. Esta informação foi o próprio governador que relatou isso num encontro que tivemos com ele. Mas eu pergunto concretamente: quantos destes poços foram colocados para fornecer água para a população? Tantos créditos que foram anunciados para amenizar os prejuízos da estiagem! Créditos até a fundo perdido! Será que vão cair novamente nas mãos daqueles que mais precisam ou vamos assistir de novo o inverso? 
E a nossa fama da indústria da seca vai se perpetuar novamente? Será que estes pequenos lavradores que tem uma pequena roça ou são meeiros tem acesso a estes créditos? 
Permitam no fim até uma pergunta: a nossa presidenta não foi também eleita pelos votos dos nossos nordestinos marcados pela estiagem? 
E agora já se escutou algo que veio fazer uma visita para conhecer [in loco] a situação deste povo sofrido, este povo sem água e sementes para plantar numa próxima chuva que todos esperam. Será que só basta para escutar para conhecer uma realidade? Creio quando estamos olhando e colocando o ouvido nestes corações sofridos, teríamos uma visão diferente da real necessidade. 
Com isso poderia se esperar que não se façam apenas promessas de ações paliativas como tantas já apresentadas. Mas se procure arregaçar as mangas para fazer opções que numa próxima estiagem nos colocam num patamar diferente. 

Firme na fé e fiquem com Deus 

Dom Alfredo Schaffler
Bispo de Parnaíba e Presidente do Regional CNBB NE-IV


Fonte: CNBB-NE IV

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