
Voltemos ao Natal. No tempo do Papa Júlio I, que dirigiu a Igreja do ano
337 a 352, é que foi introduzida essa solenidade no calendário da Igreja. Até
então celebrava-se apenas a festa da Epifania – isto é, a manifestação do
Senhor aos povos pagãos, representados pelos magos do Oriente. Ficava assim
claro que Jesus era o Salvador de todos os povos, e não apenas de um só povo. Por
que, então, 25 de dezembro como data do Natal?
O Império Romano havia decidido que todos os povos deveriam comemorar a
festa do “sol invicto”, o renascimento do sol invencível. Era invencível uma
vez que caía (morria) de noite e renascia a cada manhã, eternamente. Esse
renascimento diário era celebrado no dia 25 de dezembro. O sol era também
símbolo da verdade e da justiça, igualmente consideradas invencíveis uma vez
que, por mais que muitos tentassem destruí-las, sempre renasciam vitoriosas. O
sol, considerado um deus, era uma luz poderosa, que iluminava o mundo inteiro.
Igualmente a verdade e a justiça eram luzes poderosas para todos os povos.
Em vez de simplesmente combater essa festa pagã, os cristãos passaram a
apresentar Jesus Cristo, nascido em Belém, como o verdadeiro sol, já que nos
veio trazer a verdade e a justiça. Também ele passou pela morte, mas dela
ressurgiu, mostrando que era invencível. Seu nascimento – isto é, seu natal –,
já que não se sabia em que dia havia ocorrido, passou a ser celebrado no dia do
sol invicto.
A tradição – louvável tradição! – dos presépios é posterior: na noite de
Natal de 1223, em Greccio – Itália, S. Francisco de Assis fez o primeiro
presépio. Ele maravilha-se que Jesus, o Filho de Deus, havia-se encarnado para
que pudéssemos conhecer o rosto de Deus. Com Jesus, passamos a ter em nosso
meio um Deus que “trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana,
agiu com vontade humana, amou com coração humano. Nascido da Virgem Maria,
tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no
pecado” [Constituição Pastoral "Gaudium et Spes", do Concílio Vaticano II, nº. 22). Como não representar, então, seu nascimento, ocorrido numa
gruta de Belém? Ao longo dos tempos e dos lugares, cada povo foi deixando suas
próprias marcas nos presépios. [...]

Dom Murilo Sebastião Ramos
Krieger, scj
Arcebispo de São
Salvador da Bahia e Primaz do Brasil
Fonte: CNBB.
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