sexta-feira, 20 de julho de 2012

APRENDIZ DE PAPA

Na medida em que se intensificam as celebrações dos 50 anos do Concílio Vaticano II, que terão seu momento culminante no próximo mês de outubro, vai emergindo com destaque a figura do Papa João XXIII. Ele foi, sem dúvida, o grande protagonista deste Concílio. Nenhum outro na história da Igreja esteve tão ligado a um papa, como o Vaticano II esteve ligado a João XXIII. 
Ao se recordar os episódios, que compuseram o contexto desencadeador do Concílio, costuma-se ressaltar o ingrediente da surpresa, envolvendo especialmente a figura de João XXIII. 
Já foi uma grande surpresa sua eleição, no conclave que se seguiu à morte de Pio XII, em outubro de 1958. Ninguém esperava que o pacato Patriarca de Veneza, Ângelo Giuseppe Roncalli, fosse eleito papa. 
Assimilada esta primeira surpresa, não demoraram outras, encadeadas, que aos poucos foram dando a certeza que o velho cardeal, feito papa, iria ultrapassar, de longe, as mais otimistas expectativas que o seu pontificado poderia comportar. 
Ele marcou o dia 04 de novembro para o início oficial do seu pontificado. Conhecedor da história da Igreja, quis homenagear a memória de São Carlos Borromeu, exímio bispo que tinha aplicado com firmeza o Concílio de Trento. 
Não demorou para o povo romano perceber no novo Papa a simplicidade aliada a uma grande bondade, que cativava a simpatia de todos. Tanto que logo foi chamado de “Papa da bondade”. 
Esta imagem de bondade ficou escancarada com duas iniciativas surpreendentes de João XXIII. No Natal, sem avisar o cerimonial, foi a um hospital visitar as crianças enfermas. No dia seguinte, foi visitar os presos no cárcere de Roma. 
Estava armado o cenário, para o povo aceitar com entusiasmo a idéia de um concílio ecumênico, lançado pelo Papa da bondade, no dia 25 de janeiro de 1959. 
Mas, analisando melhor a história, estas surpresas todas têm a sua explicação. Conhecendo alguns detalhes de sua vida, desde os tempos em que o jovem Padre Ângelo Roncalli era secretário do Bispo de Bérgamo, podemos agora nos dar conta que ele foi juntando experiências e assimilando lições muito importantes, que o habilitaram a desempenhar com competência as incumbências que a Igreja foi lhe confiando, até a maior de todas, o ofício de ser papa. 
Ao longo de sua vida, ele foi aprendiz de papa! 
É muito interessante constatar que a primeira incumbência importante, confiada ao Padre Roncalli, foi organizar a atividade missionária da Diocese de Bérgamo. 
Desincumbiu-se tão bem desta tarefa, que em seguida foi chamado a Roma, para reorganizar, em nível mundial, as “pontifícias obras missionárias”. E a partir daí, ele mesmo se colocou à disposição da Igreja, para as missões que poderiam lhe ser confiadas. Assim é que ele foi núncio na Bulgária, na Turquia, depois na França, até ser nomeado Patriarca de Veneza, de onde foi eleito papa. 
Quem não o conhecia, ficou surpreso com sua eleição. Na verdade, ele era símbolo de uma das maiores manifestações de vitalidade da Igreja Católica antes do Concílio, o despertar missionário, que se traduziu em numerosas congregações, surgidas na Europa ao longo do Século XIX e inícios do século XX. 
Não há nenhum exagero em afirmar que o Papa João XXIII foi fruto do despertar missionário da Igreja na Europa, que proporcionou um grande impulso de renovação, assumido depois pelo Concílio de maneira mais ampla e articulada. 
Foi a missão que despertou a Igreja para a realização do Concílio. 
Será a abertura missionária que levará a Igreja a aplicar agora as recomendações do Concílio. 

Dom Demétrio Valentini 
Bispo de Jales (SP) 

Fonte: CNBB

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