Simbiose de calendários
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Entramos no mês de abril. De acordo com o calendário vigente
agora, abril é o quarto mês do ano, cuja contagem inicia com o mês de janeiro.
Mas andaram acontecendo algumas mudanças no calendário,
antes de se fixar, em definitivo, tal como o seguimos agora.
Para encontrar o fio da meada, é bom partir, exatamente, do
mês de abril. Pois o mês de abril se tornou uma espécie de encruzilhada, entre
o calendário romano, e- calendário judeu. Pois na verdade, o calendário que
agora temos é herdeiro de dois calendários o judeu e o romano.
Vamos, então, aos detalhes.
Relação entre o calendário Judeu e o Ocidental (Gregoriano) |
No calendário judeu, o nosso mês de abril, correspondia ao
mês de “nisan”, no qual se celebrava a páscoa, referência central para o
detalhamento dos outros meses.
O calendário judeu se guia pela lua. Ao passo que o
calendário romano se guia pelo sol. Entre os judeus, a tradição estabelecia que
a páscoa seria celebrada no primeiro sábado depois da lua cheia do mês de
Nisan.
Podemos conferir o calendário deste ano. A lua cheia cai no
dia 15 deste mês de abril, que para os judeus é mês de Nisan. O primeiro sábado
depois da lua cheia, cai no dia 19, em cuja noite tanto judeus como cristãos
celebram a páscoa. Para os cristãos, todas as outras festas importantes do seu
“ano litúrgico” são estabelecidas a partir da páscoa, como a festa de
Pentecostes, Corpus Christi, e os domingos, todas datas situadas a partir da
páscoa.
Com o calendário romano também andaram fazendo diversas
mudanças. A mais importante foi alterar a sequência dos meses. No calendário
romano original, o ano começava no mês de março, dedicado a “marte”, o deus da
guerra. Depois o início do ano foi antecipado para o mês de janeiro.
Aí se entende como o nome de alguns meses do ano ficou em
descompasso com o significado original da palavra que o identificava. Pois se
iniciamos a contagem com o mês de março, o sétimo mês vai coincidir com o mês
de “setembro”. Agora, começando a contagem em janeiro, setembro acaba sendo,
não o sétimo, mas o nono mês. E assim aconteceu com os meses de outubro,
novembro e dezembro. Eles ainda guardam o nome que correspondia ao seu número na
série que iniciava em março.
Para os mais curiosos, há outros detalhes nesta mexida no
calendário romano. Trata-se da interferência de dois imperadores, Júlio César e
César Augusto. Eles mandavam em tudo, mandaram até modificar o mês o seu
nascimento. De tal forma que Júlio César nasceu no quinto mês do ano, que por
isto se chamava “quintilis”, e tinha trinta dias. Júlio César mandou que
acrescentassem mais um dia, de tal modo que o mês passou a ter 31 dias e ser
chamado de “o mês de julho”, e no final do ano quem pagou a conta foi fevereiro,
que ficou só com 29.
Depois veio o imperador César Augusto, que nasceu no mês
chamado de “sextilis”, por ser o sexto mês do ano. César Augusto também quis 31
dias para o seu mês, que passou a se chamar de “mês de agosto”, em homenagem ao
imperador. De tal modo que no final do ano, fevereiro ficou, então, com 28
dias.
Esta a história dos nossos calendários. Agora, é a ONU que
gostaria de fazer uma ampla reforma no calendário oficial, a ser assumido por
todos os países, mesmo os que não integram a cultura ocidental. Mas até agora todas
as tentativas foram frustradas, especialmente pela firme posição dos judeus,
que não querem alterar a sequência dos sábados.
Em todo o caso, mesmo que haja diferenças de calendários, os
anos são preciosos, e cada dia merece ser vivido com alegria e ação de graças!
Fonte: CNBB
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